sábado, 1 de novembro de 2014

Enciclopédia Francesa: A Internet do século 18 (Part.II)

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Em fevereiro de 1753,o rei Luís XV, proibiu a comercialização dos dois primeiros volumes da Encyclopédie e nomeou um grupo de homens da Igreja para revisar os que ainda estavam para ser publicados. A decisão foi diplomática: agradou a Igreja sem abortar o projeto. Por trás disso havia uma voz feminina.

A amante preferida de Luís XV, madame Pompadour, era amiga dos enciclopedistas e tinha paixão pelas artes e pelas letras. Entre um encontro amoroso e outro, Pompadour convenceu o soberano de que não era bom impedir um projeto intelectual que dava prestígio à França no estrangeiro. Pela extensão do trabalho (no fim das contas, a Encyclopédie compreenderia 27 volumes, 72 mil artigos e 16500 páginas), fica claro que os censores não conferiram letra por letra o que estava sendo publicado. Ou se deixaram enganar pelos malabarismos verbais executados pelos autores. Em entradas como “Autoridade política e direito natural”, os enciclopedistas mostravam o tipo de mudanças que esperavam.

Outra artimanha dos editores foi o uso de referências cruzadas. Como toda enciclopédia, a de Diderot e D’Alembert trazia ao fim dos textos sugestões de outros artigos que ampliavam a compreensão sobre o tema em questão. O jogo de referências permitia aos leitores mais atentos decifrar o que pensavam os cabeças do grupo sobre um determinado assunto. Por exemplo, o artigo “Liberdade de pensamento” levava a “Intolerância”. O artigo “Ofício” lembrava os cargos do Estado que eram vendidos pelo rei aos nobres e, no fim, encaminhava o leitor para os textos sobre “Moral”, “Moralidade” e “Ética”.

Sem dúvida, uma das virtudes do grupo foi defender uma nova ordem social em que as classes produtivas estivessem à frente. Fizeram isso nas entrelinhas, acrescentando relatos sobre diversos processos de manufatura e centenas de ilustrações sobre os instrumentos de trabalho dos artesãos. Também elevaram as Artes e as Ciências a um novo patamar, realçando o poder humano de criar e descobrir. Sendo assim, tinham uma boa desculpa para os censores: a Encyclopédie não era um livro de idéias, mas uma obra informativa.

A ousadia permanente desses homens, que se tratavam uns aos outros como iluministas, por muito pouco não os levou à Bastilha, a temida fortaleza-prisão de Paris. Depois daquela primeira crise provocada pelo bispo, viria outra, ainda pior. Em 1759, com sete volumes publicados e 4 mil leitores já tendo pago pelos próximos, os livros foram definitivamente proibidos pelo rei. O papa se somou ao coro dos descontentes: atacou a Encyclopédie e a incluiu no índex de livros proibidos, ameaçando os católicos que a lessem com a excomunhão. A censura, por conta de uma grave crise política, havia recrudescido no país e os enciclopedistas temiam por sua liberdade e por sua integridade física.

No entanto, é justamente nesse momento que se sente o quanto a Europa havia mudado desde os primeiros pesados volumes. Ainda que tivesse contra si o rei, o papa e parte da intelectualidade francesa, a Encyclopédie já dava emprego direto a mil pessoas. Além dos escritores e dos livreiros, desenhistas, impressores e encadernadores dependiam dela para sobreviver. As estimativas são de que um em cada dez parisienses se beneficiava do livro economicamente.

Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/enciclopedia-francesa-internet-seculo-18-435636.shtml (Acessado em: 01/11/2014)

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